My Son is Probably Gay

E se um dia você enfim percebesse que o seu filho pode ser gay? Como reagir? Como enfrentar essa situação se o dito cujo não se abre com você?
Apesar de parecer uma premissa de mais uma obra LGBTQI+ genérica, o mangá My son is probably gay aborda uma visão surpreendentemente positiva sobre uma mãe que toma consciência que seu filho mais velho pode ser (e é, na realidade) gay. A obra, de autoria de Okura, é publicada originalmente on-line, no site Pixiv, e traduzida em diversas línguas por grupos de scanlators. Cada capítulo é bem curtinho e é ideal para aquelas escapadas durante alguma tarefa cansativa.

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O mangá desenrola-se sobre a ótica da mãe e dona-de-casa em tempo integral Tomoko, que incansalvelmente cuida de seus dois filhos Hiroki e Yuri e de seu marido - quase sempre ausente por motivos de trabalho - Akiyoshi. Tomoko é a mãe que todos queriam ter - cuidadosa, afetiva, boa cozinheira, atenciosa, e o melhor, relaxada e tranquila. Graças a esses traços de personalidade, sempre atenta, ela percebe que seu primogênito deixa escapar às vezes algumas atitudes que fogem do ordinário - como falar namorado ao invés de namorada nas conversas informais do dia-a-dia. Nada para se preocupar, é claro.

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Mãe não é cega, como dizem por aí, e no fundo todas elas sabem mais de nós do que pensamos. E com Tomoko não é diferente, ela já percebe de cara o que está se passando com o filho adolescente. Só que, ao invés de confrontá-lo, ela procura tratar tudo com a maior naturalidade - como deveria ser, aliás. Tomoko tenta sempre apoiar os pensamentos do filho, ao mesmo tempo que o guia para que possa se conhecer e aceitar no ritmo próprio. E é essa mensagem que torna o mangá tão especial.

O fato de ser uma comédia que retrata a rotina de uma família traz um ar todo leve para o mangá. Nada de dramas pesados aqui - apesar de haver passagens que retratam como é difícil para uma criança/adolescente lidar com os seus próprios sentimentos e aceitar sua própria verdade, ainda mais pelo fato de crescer e ser bombeardeada numa cultura enviesadamente heteronormativa. E Hiroki é esse adolescente, vivendo descobertas a cada dia, florescendo sentimentalmente e tendo que lidar com os preconceitos aparentes e não tão parentes, mas que machucam da mesma forma. Além de ter de mascarar seu verdadeiro eu em frente à família e amigos, fato tão comum na vida queer. Mesmo assim, o mangá almeja sempre trazer um tom reconfortante, acalentador - é como se ele desse tapinhas em seus ombros, dizendo “não se preocupe, vai passar”. E esse tapinha é transfigurada na mãe, que está sempre ali, inclusive embarcando nos ships e crushes do seu filho.

Outro foco do mangá é a própria família e amigos e como se dá a dinâmica entre eles. O filho mais novo, Yuri, é mais calado e fechado, mesmo que participe de todos os eventos familiares. Posteriormente, descobrimos que ele é meio tapado no quesito de relacionamento e sentimentos, às vezes não compreendendo o que se passa ao seu redor. Porém, ao observar seu irmão mais velho, acaba por perceber as mais diversas notas que existem na relação entre duas pessoas - o que realmente é gostar de alguém - divago. O que importa de verdade é que ele parece sber da situação do irmão e sequer levanta preconceitos nem questionamentos.

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O pai, por sua vez, é a própria figura do pai desligado e sem noção. Por vezes, ele reforça esterótipos e parecer não entender o que se passa na cabeça dos filhos. Acho que ele não faz por mal, seria só a falta de uma convivência mais próxima, tal qual acontece com a mãe. Esta, por sua vez, tenta alertar subliminarmente o seu marido da situação, para que ele veja com seus próprios olhos o que está acontecendo.

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Em suma, My son is probably gay é uma comédia para todos: para os adolescentes que vivem os dramas típicos dessa idade (ainda mais se forem LGBTQI+), para os pais, que passem ou não pelo o mesmo, para qualquer um que deseja ler algo leve e acalentador. Um verdadeiro suspiro no meio de tanta loucura.